Área do Conhecimento de Humanidades
Curso de Licenciatura em Sociologia
Disciplina: Teoria Sociológica Contemporânea
Docente: Carlos Roberto Winckler
Acadêmica: Marta Giriane dos Santos
Avaliação: Ficha de Leitura
Título; A Dominação Masculina.
Autor ou escritor; Pierre Bourdieu.
Traduzido por; Maria Helena Kühner.
Editora, ano da edição; Editora Best Bolso, 2018 - 6º Edição.
Cidade; Rio de Janeiro.
Biografia de Pierre Bourdieu
Pierre Bourdieu, (1930-2002) foi um importante sociólogo e pensador francês, autor de uma série de obras que contribuíram para renovar o entendimento da Sociologia e da Etnologia no século XX. Pierre Félix Bourdieu (1930-2002) nasceu em Denguin, França, no dia 1 de agosto de 1930. Iniciou seus estudos básicos em sua cidade natal. Mudou-se para Paris, ingressou na Faculdade de Letras, onde cursou Filosofia, obtendo a graduação em 1954. Prestou serviço militar na Argélia (então colônia francesa). Entre os anos de 1958 e 1960, assumiu a função de professor assistente na Faculdade de Argel. De volta à França, Pierre Bourdieu foi nomeado assistente do filósofo e sociólogo Raymond Aron, na Faculdade de Letras de Paris. Filiou-se ao Centro Europeu de Sociologia, tornando-se secretário-geral em 1962. Durante as décadas de 60 e 70, Bourdieu se dedicou às pesquisas como etnólogo que revolucionaram a Sociologia. Dessas investigações sobre a vida cultural, sobre as práticas de lazer e de consumo dos povos europeus, principalmente dos franceses, resultou na publicação de “Anatomia do Gosto” (1976), e sua obra prima “A Distinção – Crítica Social do Julgamento” (1979). Em suas obras, Bourdieu tenta explicar a diversidade do gosto entre os seguimentos sociais, analisando a variedade das práticas culturais entre os grupos, afirmando que o gosto cultural e os estilos de vida da burguesia, das camadas médias e da classe operária, estavam profundamente marcados pela trajetória social vivida por cada um deles. A repercussão de suas reflexões o levou a lecionar em importantes universidades do mundo, entre eles, a universidade de Harvard e de Chicago e o Instituto Max Planck de Berlim. Em 1981 assumiu a cadeira de Sociologia no Collège de France, onde em sua aula inaugural destacou-se por propor uma crítica sobre a formação do sociólogo, propondo o que ficou identificado como “Sociologia da Sociologia”. Pierre Bourdieu foi considerado um dos mais importantes intelectuais de sua época. Tornou-se referência na Antropologia e na Sociologia, publicando trabalhos sobre educação, cultura, literatura, arte, mídia, linguística, comunicação e política. Com sua vasta produção intelectual, recebeu o título “Doutor Honoris Causa” da Universidade Livre de Berlim (1989), da Universidade Johann Wolfgang-Goethe de Frankfurt (1996) e da Universidade de Atenas (1996). Pierre Bourdieu faleceu em Paris, França, no dia 23 de janeiro de 2002.
Conceito de Habitus
Na obra “A Dominação Masculina”, a construção do habitus é explicada por Bourdieu da seguinte forma: “...o produto de um trabalho social de nominação e de inculcação ao término do qual uma identidade social instituída por uma dessas 'linhas de demarcação mística', conhecidas e reconhecidas por todos, que o mundo social desenha, inscreve-se em uma natureza biológica e se torna um habitus, lei social incorporada".
Capital, na obra sociológica de Pierre Bourdieu é um conceito que discute a quantidade de acúmulo de forças dos agentes em suas posições no campo. Ele distingue, no decorrer de sua obra, quatro principais tipos de capital: o social, o cultural, o econômico e o simbólico (no qual se inclui o científico, entre outros).
Composição do livro
No prefacio é ressaltado e eternizado a arbitrariedade, também de forma breve é abordado os assuntos discutidos no decorrer do livro.
Em seguida o preâmbulo apresenta a logica da pesquisa de Pierre Bourdieu, onde explica sua posição de espanto em relação à ordem do mundo. Bourdieu optou por uma estratégia prática: a análise etnográfica das estruturas objetivas e formas cognitivas de uma sociedade histórica específica e androcêntrica, os Berberes da Cabília; segundo ele, uma sociedade ao mesmo tempo exótica e familiar, cujas tradições seriam paradigmáticas para as demais sociedades mediterrâneas. A análise etnográfica foi tratada por ele como instrumento para um “trabalho de sócio análise do inconsciente androcêntrico, capaz de operar a objetivação das categorias deste inconsciente”; facilitando a exploração das “categorias do entendimento” ou “formas de classificação” com as quais construímos o mundo, e realizando, portanto, uma “arqueologia objetiva” de nosso próprio inconsciente [não se trata, aqui, do inconsciente freudiano, mas de um inconsciente ligado a um trabalho de construção histórica].
No primeiro capitulo, com o titulo “Uma Imagem Ampliada” parece estar em busca de uma estratégia, procurando transformar um exercício de reflexão transcendental e visando explorar as “categorias de entendimento” ou as “formas de classificação” com as quais construímos o mundo, também aborda a incorporação de esquemas inconscientes de percepção das estruturas históricas da ordem masculina, o autor faz uma analise etnográfica das estruturas objetivas, cita ainda a visão “falo-narcísica” e “cosmologia androcêntrica”. O primeiro capítulo subdivide‐se em cinco partes. Primeiramente a “construção social dos corpos” que trata da ordem da sexualidade comparada a dois universos diferentes, sendo um deles a sociedade de Cabília.
Na segunda parte do primeiro capítulo com o subtítulo “A incorporação da dominação”, o autor apresenta uma espécie de definição social do corpo, também dos órgãos sexuais como produto de um trabalho social em construção. Já na terceira parte do primeiro capítulo “A violência simbólica” é destacada, desta forma também ressalta a dominação masculina com base numa divisão sexual do trabalho, através de estruturas sociais e de atividades produtivas e reprodutivas. Na quarta parte do primeiro capítulo ele refere-se “As mulheres na economia dos bens simbólicos” mostrando uma ordem são inseparáveis das estruturas que as produzem e as reproduzem, pois tanto nos homens como nas mulheres, e encontrando seu fundamento na estrutura do mercado dos bens simbólicos.
E com o tema “Virilidade e violência” finaliza o primeiro capítulo, ressaltando, se as mulheres que tem um trabalho de socialização que as rebaixam e humilham, fazem a aprendizagem das virtudes negativas da abnegação, da resignação e do silêncio, e os homens também estão prisioneiros da representação dominante. “O autor afirma ainda que a virilidade é uma noção relacional, construída diante dos outros homens, para os outros homens e contra a feminilidade.”
Bourdieu aponta como motivação um fenômeno, o de não haver um maior número de transgressões ou subversões, sendo a ordem do mundo grosso modo respeitada e facilmente perpetuada, juntamente com seus privilégios, injustiças e relações de dominação; dentre estas, a masculina, para ele, exemplo por excelência desta submissão paradoxal.
O segundo capítulo “Anamnese das constantes ocultas”, dividido em três partes, inicia com a abordagem da descrição etnológica de um mundo social, construído em torno da dominação masculina que atua como um “detector” de traços infinitos e de fragmentos da visão androcêntrica do mundo. Pode - se destacar a supervalorização masculina do corpo masculino e da mesma forma a supervalorização feminina do corpo feminino determinando uma soma da relação de dominação. Lembrando a “Masculinidade como nobreza” e as condições “ideias” que a sociedade de Cabília oferecia ás pulsões do inconsciente androcêntrico, assim como a relação de causalidade circular que se estabelece entre as estruturas objetivas do espaço social e as disposições que elas produzem, tanto nos homens como nas mulheres.
Nesta segunda parte compreende – se que “O ser feminino como ser percebido”, mostra que tudo, na gênese do habitus feminino e nas condições sociais de sua realização concorre para fazer da experiência feminina do corpo o limite da experiência universal do corpo‐para‐o‐outro. O autor enfatiza ainda que o corpo percebido é duplamente determinado e determinante socialmente.
E encerra o segundo capítulo com “A visão feminina da visão masculina”, e ressalta que é através daquele que detém o monopólio da violência simbólica legítima dentro da família que se exerce a ação psicossomática que leva à somatização da lei. De acordo com Bourdieu, a questão principal seria a de revelar os processos responsáveis pela transformação da história em natureza, do arbitrário cultural em natural; devolvendo, assim, à diferença entre o masculino e feminino seu caráter puramente arbitrário e contingente. As aparências biológicas, conjugadas aos efeitos reais nos corpos e mentes, do “longo trabalho coletivo de socialização do biológico e de biologização do social”, seriam capazes de inverter efeitos e causas, naturalizando, assim, essa construção social. Dessa forma, segundo o autor, durante a socialização homens e mulheres incorporam - como esquemas inconscientes de percepção e apreciação - as estruturas históricas da ordem masculina; arriscando-se, portanto, ao procurar compreender o fenômeno (inclusive quando pesquisadores), a utilizar modos de pensamento que também são produtos dessa mesma dominação.
No terceiro capítulo, o autor inicia com o tema “Permanências e mudanças”, com uma reflexão sobre a pesquisa da escritora Virgínia Woolf e de uma forma de dominação inscrita em toda a ordem social, que está composta por quatro partes as quais compreendem os seguintes temas:
“O trabalho histórico de deshistoricização”, o qual destaca que “é preciso reconstruir a história do trabalho histórico de deshistoricização (...)”. Ressalta que a pesquisa histórica não pode se limitar a descrever as transformações da condição das mulheres no decorrer dos tempos. Na segunda parte o autor analisa “Os fatores de mudança”, apresenta e dá como positivo a mudança que consiste no fato de que a dominação masculina não se impõe mais com a evidência de algo que é indiscutível. E de todos os fatores de mudança, os mais importantes são os que estão relacionados com a transformação decisiva da função da instituição escolar na reprodução da diferença entre os gêneros. Ainda na segunda parte desse capítulo o autor traz a “Economia dos bens simbólicos e estratégias de reprodução”, evidenciando um fator importante e determinante para a perpetuação das diferenças.
Como terceira parte do capítulo apresenta o tema “Economia dos bens simbólicos e estratégias de reprodução”, o autor argumenta de modo que, um elemento determinante da perpetuação das diferenças é a permanência que a economia dos bens simbólicos deve a sua autonomia relativa, que permite à dominação masculina nela perpetuar-se.
Então como quarta parte “A força da estrutura”, o autor conclui e afirma que não é só na família, mas também no universo escolar e no mundo do trabalho, no universo burocrático e no campo da mídia, que deixam em pedaços a imagem fantasiosa de um “eterno feminino” para realçar o olhar focado na permanência da estrutura da relação de domínio entre os homens e as mulheres. Segundo Bourdieu, a dominação masculina também impõe pressões aos próprios dominantes; porém com desdobramentos distintos, tendo em vista que, de alguma maneira, os homens sempre podem se beneficiar com isto, “por serem, como diz Marx, ‘dominados por sua dominação’”.
Finalmente, para encerrar esse capítulo, o autor traz algumas questões sobre a dominação e o amor através do que ele convencionou de ”POST - SCRIPTIUM”.
Em seguida o autor faz a conclusão do livro, na qual destaca que a divulgação da análise científica de uma forma de dominação tem efeitos sociais, que podem assumir sentidos opostos, reforçar a dominação ou contribuir para neutraliza-la. Apesar das mencionadas dificuldades para uma tomada de consciência por parte de ambos os sexos, no que diz respeito aos processos da dominação masculina, Bourdieu ressalta o fato de que na atualidade já “não se impõe mais com a evidência de algo que é indiscutível”; atribuindo as mudanças ao trabalho crítico do movimento feminista, o qual conseguiu, em algumas áreas do espaço social, romper o reforço generalizado. Para Pierre, “só uma ação política que leve realmente em conta todos os efeitos de dominação que se exercem através da cumplicidade objetiva entre as estruturas incorporadas (...) e as estruturas de grandes instituições onde se realizam e se produzem não só a ordem masculina, mas também toda a ordem social (...) poderá, a longo prazo, (...) contribuir para o desaparecimento progressivo da dominação masculina”.
Por fim me descobri sendo muito conservadora e fiquei um tanto escandalizada acerca do estudo quase que pornográfico feito e analisado etnograficamente por Pierre, por outro lado, se tratar de sua analise divertidamente escrita, mas que comparada à sociedade e seus meios de dominação. Descobrir que etapas do sexo e o amor tem sua forma de dominação, e que comparadas à sociedade atual foi como ter a mente libertada para novas descobertas.
Referencias
BOURDIEU, Pierre (1998). A Dominação Masculina. Tradução: Maria Helena Kuhner. Rio de Janeiro: BestBolso, 6ª edição, 2018.